Nós, cristãos católicos, celebraremos a
Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor. Todos os anos a Igreja nos coloca
diante de um dos maiores mistérios de nossa fé, como também diante de dezenas
de partilhas e textos que nos ajudam a viver bem este dom. Com tantas propostas
boas e ricas interpretações, decidimos partilhar não a história, nem o que significa,
mas o efeito que esta festa deve produzir em nós.
Não
podemos nos esquecer que todas as festas e solenidades querem, pelo
conhecimento, encontro e experiência, nos levar a sermos a continuidade,
testemunho vivo do que estamos celebrando. Todos os momentos da vida de Cristo
são presentes e chamados amorosos do Pai para que o imitemos profundamente. “Corpus
Christi” não é para ver, mas para ser. Podemos nos lembrar de várias partes do
nosso patrimônio de fé ao falarmos do Corpo e Sangue do Senhor. Mas e depois?
Após
a Santa Missa vamos sair pelas ruas de nossas cidades com o Santíssimos
Sacramento, Jesus vivo no Sacramento da Eucaristia. Como sairemos? Para que
sairemos com Jesus pelas ruas? São questões que gostaria que fossem assumidas.
Toda
a liturgia nos faz ver que se Jesus Cristo, o verdadeiro e eterno sacerdote
entrou definitivamente no santuário para nos livrar da antiga condenação, nós,
redimidos pelo seu Sangue, devemos viver uma vida nova (Hb 9, 11-15). Em toda a
Sagrada Escritura, especialmente pelo ministério de seu Filho, podemos
encontrar as maravilhas que o Senhor fez e faz a nosso favor. Tudo para que
vivamos uma vida plena, repleta de verdade e amor. Cristo nos remiu, nos
libertou para que pudéssemos tomar posse da verdadeira felicidade. Tudo o que Ele
fez foi para que tivéssemos condições de ter a vida que o Pai pensou para nós
no ato da Criação. A liberdade que Jesus nos deu de presente, especialmente por
sua Paixão, Morte e Ressurreição, é um dom gratuito inesgotável. Quando lemos
que Ele nos deu seu Corpo e Sangue devemos agradecer, mas também não
esquecermos que se Ele se deu por inteiro, não poupando sequer seu próprio
Corpo e Sangue, assim, devemos valorizar este amor que nem merecíamos. Como?
Realizando o trabalho que Ele realmente deseja de nós: que sejamos felizes, que
cresçamos, que amemos... Deus não precisa de nada, não quer nos tomar nada,
pelo contrário, quer nos dar tudo, o tudo que Ele é. Por isto se deu e continua
se dando em sua Palavra, em seu Corpo e Sangue, para que neste diálogo de amor
com Ele nos tornemos parte de seu coração santo, de sua santidade.
Jesus,
quando nos alimenta, quer que sejamos plenos como Ele, pois só assim o homem
terá o que deseja. Devemos comer o Corpo e o Sangue de Cristo para, alimentados,
nos tornarmos como ele. “De fato, se o sangue de bodes e touros e a
cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santificam, realizando a
pureza ritual dos corpos, quanto mais o sangue de Cristo purificará a nossa
consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9, 13s).
A
Igreja é também o Corpo Místico de Cristo. Se como Igreja saímos pelas ruas de
nossas cidades dizendo que acreditamos neste alimento, mais ainda devemos
dizer, com atitudes e ações, que estamos realmente nos alimentando de tudo que
este Corpo é. É uma aberração comer do Corpo e Sangue de Jesus e não querer ser
santo n’Ele, amar como Ele nos amou e entregar-se como Ele entregou-se. Os
nossos irmãos do Antigo Testamento viviam purificações rituais, nós vivemos o próprio Senhor. Nenhum de
nós pode reclamar que não recebeu o que era necessário para viver bem, nenhum
de nós pode dizer que não tem o que comer ou beber para que a própria
existência se mantenha forte e inabalável. Não podemos continuar nos
aproximando deste alimento eterno se não temos o desejo de receber os frutos
que d’Ele brotam, isto é, uma consciência nova, atitudes renovadas, desejo de
renunciar aos estados de morte que nos afastam do Deus vivo. Pois não é Deus
que se afasta de nós, mas nós que perdemos a oportunidade de aproveitar tudo
que Ele quer ser para nós e em nós quando nos deixamos levar por propostas,
atitudes e pensamentos que não condizem com o que Deus é.
Ressoará
em nossos ouvidos, como ressoa em cada Santa Missa, o convite e a auto-doação
de Cristo: “Jesus tomou um pão e pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e
deu-lhes, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo” (Mc 14,22). Caberá a
cada um de nós decidir como comeremos este alimento. O Corpo e Sangue de Cristo
e para nós uma proposta de vida ou o vemos como um amuleto sagrado, ritual
mágico para nos proteger ou emocionar? O Corpo e Sangue de Cristo é toda a sua
história, toda a sua vida, palavras, ações, tudo o que Ele fez para a nossa
Salvação. Quando o recebemos estamos, também, disponibilizando tudo que somos
para a edificação de todo o Corpo que a Igreja, estamos nos doando, a partir de
uma mudança de vida, ao mundo ou pensamos que estamos usurpando o poder de
Deus? Que a Misericórdia de Deus nos ajude a encontrá-lo sem reservas. Amém!
Pe. Rômulo Azevedo da Silva
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