Há algumas lembranças que nunca nos
deixam, umas são ruins e outras boas. É bom acreditarmos que tudo pode ser
aproveitado para o nosso crescimento. Mesmo as nossas feridas podem tornar-se
experiência de vida para nos impulsionar para frente. Alguns dos momentos que
vivemos vão nos acompanhar para sempre. Santo Tomás de Aquino, um grande santo
para nós católicos, reconhecido e estudado pela teologia, pela filosofia e por
outras ciências, dizia algo que nos ajuda em muitas questões: “há
uma diferença entre o sentir e o consentir”. É uma grande verdade! Só que temos que ter um
pouco de habilidade na arte da vida para sabermos lidar com tudo, mesmo as feridas
vão ser lembradas sempre, pelo menos enquanto tivermos uma boa mente. A maneira
como as lembramos e, principalmente, que atitude vamos tomar quando lembramos é
o mais importante. Podemos sentir raiva, por exemplo, mas não permitirmos que
ela nos destrua é o segredo.
Gostamos
muito dos assuntos ligados ao crescimento psicológico humano, mas o que desejo
neste encontro é mais simples, é uma outra parte no campo das lembranças. Falamos
do que podemos fazer com nossas lembranças porque é sobre uma delas que desejo
tratar. É evidente que, estando no campo de minhas próprias experiências, está
ligada à minha interpretação. Diante do fato narrado, cabe a você, querido
leitor, tirar suas conclusões.
Quando
estava vivendo o meu ministério em Ouro Branco, no período de 2005 a 2008, se
não me falha a memória, ia de carro de Jardim do Seridó a Ouro Branco, era um final
de tarde. Comigo ia Marcondes de Equador, meu afilhado de Crisma, e um senhor
que ia para uma das comunidades daquele município. Em um trecho da estrada nos
aproximamos de uma família, à nossa frente, em uma moto. Era o pai, guiando o
veículo, a mãe e uma linda criança, bem segura, em seu colo, de modo que, como
íamos todos bem devagar, dava para vermos bem a criança, como também dava para
ela nos ver. Não quero entrar na questão se era seguro ou não para aquela
criança viajar deste jeito. O interessante é que quando percebemos a criança
estava fazendo o sinal de saudação para todos nós do carro, “dando tchau”, como
dizemos no popular. O sorriso daquela criança nunca saiu do meu pensamento. Retribuímos
o gesto, e, entre sorrisos e palminhas, ela nos dava os braços, como que
dizendo que tinha coragem de pular se pudesse. E teria, pois uma criança é pura
e sempre confia. O fato foi este, tão simples, tão cheio de significados.
Aquela
criança, de no máximo três anos de idade, me fez naquele dia uma pregação do
Evangelho tão forte que nunca esqueci. Algumas pessoas de Ouro Branco lembram,
com certeza, de uma homilia que fiz meditando este acontecimento. Em pequenos
toques Deus nos dá a oportunidade de vermos como é o homem, como Ele pensou,
como Ele nos criou e, também, como nos tornamos muitas vezes. Vivemos naquele
dia uma verdadeira aula de vida, aprendemos a ciência do amor de um pequeno
coração que nem sabia ainda ler ou escrever. Aquela criança não tinha, naquele
tempo, contato com nenhuma de nossas ciências, mas nos deu uma “bofetada” do
que é viver, do que deve ser a vida de todos nós, isto é, confiança, capacidade
de aproveitar os momentos, desejo de comunicar-se, entrega, acolhimento... o
que tanto podemos ver naquele desejo de brincar, de ser uma criança?
Entre
tantas possibilidades de interpretação o que podemos pensar? Que mesmo estando
em um veículo que ela não dominava, mesmo não estando sentindo o chão em seus
pés para lhe dar segurança, ela sentia-se plenamente segura, afinal estava no
colo da mãe, laçada pelos braços da mãe, tendo à frente o pai. O mais
interessante foi a capacidade de acolher estranhos que a criança tem. Certamente
alguns podem dizer que é isto que as tornam
desprotegidas, é verdade, mas também é isto que as tornam a esperança, é isto
que nos dão a possibilidade de ver como éramos quando puros, quando
acreditávamos na fantasia, no amor, quando o outro era nosso amigo, igual a nós
e não um inimigo perigoso. Ela não nos conhecia, mas antecipou-se, comunicou-se
e sorriu. Como poderíamos ser assim, mesmo que um pouco!
A
verdade é que o tempo passa, e muitas vezes, em vez de crescer em todos os
níveis, murchamos, deixamos a rotina nos roubar a capacidade de ver o outro
como um irmão, morador de nossa grande casa. Pelas dores e feridas nos
fechamos, paramos de acreditar até em nós mesmo, quando mais no outro! Aquela criança
tinha motivos para ter medo, mas ela acreditou na segurança dos pais, ela tinha
motivo para ter medo de nós, mas foi ela quem nos atingiu com o seu amor
cativante. As crianças estão prontas para acolher, mesmo que briguem e se
zanguem, estão prontas para perdoar e recomeçar. Não desejo esgotar, e nem
poderia, as possibilidades desta minha visão, para mim positiva; deixo o mais
para cada leitor, como já disse. Esta história me faz lembrar de Jesus Cristo. Deixo
que Ele fale e conclua esta minha lembrança.
“Naquela
hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no
Reino dos Céus?” Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: “Em
verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes com crianças, não
entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno com esta criança, esse é o
maior no Reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta,
estará acolhendo a mim mesmo” (Mt 18, 1-5).
Pe. Rômulo Azevedo da Silva
Como digo sempre meu querido amigo o senhor é ungido e um verdadeiro servo de Deus, muito sábio e procuro sempre le ouvir e de suas palavras fazer pratica em minha vida.um grande abraço.Régia
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