sábado, 14 de janeiro de 2012

CATÓLICOS: NEM DE VEZ EM QUANDO E NEM DE QUALQUER JEITO!

            Uma coisa interessante! Uma boa parte do Povo de Deus hoje, podemos dizer, a Igreja que conhecemos e somos, é parte de nossa época. Não entendo como é  que pessoas vivem com saudade de coisas que não viveram. Explico-me! Como é que uma criança que já viveu a época da TV à cores – e nunca viu uma em preto e branco – pode ter saudades daquela que não conheceu ou conhece? Como é que alguém pode ter saudades de um tempo que não viveu? Como é – em se falando de vida eclesial – que alguém pode ter saudades do tempo da Igreja Tridentina (com todo respeito e amor a esta) sem ter conhecido ou vivido nesta época? São coisas que realmente não dá para entender. A Igreja passou por tantos momentos bonitos e significativos nestes últimos séculos, momentos até dolorosos de libertação e crescimento. Tanto se lutou para nos tornarmos mais humanos, simples, pobres, mais próximos do Povo de Deus, mais fraternos e, até mais santos.

Na década de 60 do último século tivemos o fato heróico do Beato João XXII, quando, mesmo com resistência, convocou o Concílio Vaticano II para dar ares novos à Igreja de Jesus Cristo. Nestes últimos dias acompanhamos nossos pastores da América Latina e do Caribe gerando para a nossa vida eclesial um verdadeiro tesouro (em Aparecida do Norte/SP). Como é que podemos fazer de conta que tudo isto não tem importância para a gente? Como podemos querer viver uma Igreja do nosso jeito se ela nunca foi e nunca pode ser fruto do que eu penso e quero? A Igreja é fruto do sopro do Espírito Santo, é Ele quem tudo governa e tudo deve ser como Ele determina. Não podemos travar a caminhada da Igreja, nem obrigá-la a voltar a momentos e práticas que a história já demonstrou que não dá mais. Foi muito bom, para aquele tempo, naquele momento da história. Hoje temos o nosso tempo, com as nossas próprias preocupações, belezas e desafios.

            O Documento de Aparecida nos coloca diante de uma exigência e necessidade que, na verdade, não é nada novo, é a essência da Igreja. Quem gosta de coisas antigas está aí, nada é mais antigo do que a dignidade que nos é dada de graça com o Batismo, nos tornarmos templos vivos de Deus, filhos adotivos no Filho e termos uma vida que vá se assemelhando a sua própria vida. “Esta V Conferência se propõe “a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste Continente que, em virtude de seu batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo (DAp 10). As atitudes e costumes de Jesus devem fazer parte de nós. Isto só será possível quando tomarmos consciência de que somos e queremos ser discípulos e missionários do seu amor, do seu Reino.

A missão e a nossa responsabilidade para com o mundo e para com a Igreja deve ser uma realidade presente em nossos dias, ações e lutas. Se digo que sou católico e não assumo o que os nossos bispos “colocaram na mesa do mundo” com tanto amor, na Conferência de Aparecida, conteúdo que deve dar a tonalidade da nossa alma eclesial nos próximos anos, então estou vivendo uma contradição enorme. Ser católico é ser com toda a Igreja, especialmente a Igreja da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério. O que a Igreja quer é que sejamos de Cristo em tempo integral, em todos os momentos, quando estivermos na comunidade à qual pertencemos, em nossos grupos, na família, no trabalho, no lazer, nas férias, enfim, sempre e em qualquer circunstância, sermos realmente cristãos católicos, comprometidos com o Salvador, com a sua Igreja, e com os pés na nossa história, não criando uma ilusória. É claro que não precisamos ser todo-poderosos ou perfeitos ao extremo, só Deus é assim, precisamos apenas amar um pouco mais.

Vejamos um fato que deve nos fazer pensar. O próprio Documento de Aparecida diz que devemos valorizar as práticas da religiosidade popular (Dap 258), isto é verdade, é um tesouro inesgotável. Contudo temos no nosso Seridó um bom número de “católicos” que vivem sua fé de festa em festa, de uma procissão uma vez por ano, vão à Igreja no Batismo, na Primeira Eucaristia, na Crisma, no Casamento (olhe lá), quando morre alguém da família, etc. É uma fé de eventos e não de uma vivência diária e contínua de comunidade cristã. Não quero aqui reprovar aquelas pessoas que moram em comunidades distantes e que só tem, realmente, condições de vir à cidade uma vez por ano na procissão do padroeiro(a).

Mas convenhamos que no mundo de hoje não há mais tanta dificuldade assim não é? Até porque em quase todas as comunidades, pelo menos aqui em nossa Diocese de Caicó, há uma Capela ou pelo menos um sacerdote celebrando uma vez por mês, no mínimo. Sem falar nos leigos e missionários que assumem em todos os recantos este belo trabalho de evangelização. Desculpem o meu pensamento, mas acredito que em muitas pessoas é uma questão de acomodação ou, o que é pior, uma falta da verdadeira fé, uma falta de um encontro pessoal com o Senhor que morreu e ressuscitou para nos salvar.

A missão, e responsabilidade pela a caminhada da igreja, não é só do padre mas de todo batizado. A Igreja é um pouco o que eu sou, a minha Paróquia vai ser o que disponibilizo para ela. Vejo que falta fé no mundo que vivemos, falta compromisso e uma consciência de co-responsabilidade. Se as outras igrejas são mais animadas é  porque há pessoas lá mais comprometidas do que nós. É verdade que estamos tento um retorno ao Sagrado, porém um sagrado baseado, às vezes, no egoísmo, individualismo, numa espiritualidade livre, sem limites ou regras e marcada pela mídia e pela filosofia do comércio, do lucro, da busca de benefícios e respostas imediatas.      

Certamente este não é o Povo de Deus que Jesus pensou. Assim, em vez de vivermos sonhando com um passado que não deve voltar mais – porque a história deve continuar para a frente, até Deus – devemos arregaçar as mangas e ajudarmos a Igreja hoje, agora. Precisamos dar a nossa contribuição e, não só como queremos, mas como é possível e como pensaram nossos pastores, os bispos em unidade com o nosso Papa. Nem demais e nem de menos, não um retorno exagerado do que já passou e muito menos um futurismo moderno ao extremo, deve haver o equilíbrio. Resta-nos orarmos ao Senhor da messe que nos converta e olharmos para o exemplo da Virgem Maria e de tantos santos e santas que viveram para amar e servir. Olhando para eles e seguindo seus exemplos de fé e dedicação estamos no caminho certo. Não podemos ser católicos de vez em quando, muito menos de qualquer jeito! Que Deus nos conduza sempre.


Pe. Rômulo Azevedo da Silva

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